quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Secretaria inicia Casa Lar em Passos

Além da Casa-Lar


A implantação da Casa Lar como serviço de proteção para crianças em risco social, vítimas de abandono, violência ou negligência em Passos é um avanço na política de assistência social. Tanto a Casa Lar, quanto as Famílias Acolhedoras, quando bem estruturados, conseguem garantir a proteção social das nossas crianças e adolescentes.
    
É preciso deixar claro, que proteção social não tem nada a ver com trancar  crianças e adolescentes dentro de um local habitável. A Casa Lar, medida alternativa ao abrigo deve garantir a convivência familiar e comunitária e este é o nosso principal desafio. 
    
Garantir o direito à convivência comunitária significa que as crianças e adolescentes, na Casa Lar deverão freqüentar a escola, creche, programas de inclusão social, ir ao médico, dentista, e, principalmente, ir ao cinema, ao futebol, ao parque de diversões, ter acesso aos programas de lazer, ter amigos e tudo aquilo que dá sentido à existência humana. Proteger significa contribuir para que a criança e o adolescente possam pertencer à sua comunidade e se desenvolver com ser humano, sem constrangimentos, sem olhares preconceituosos, sem qualquer tipo de discriminação. 
     
Infelizmente, muitas vezes, as crianças e adolescentes vítimas do abandono e da violência acabam sendo tratados pela sociedade e pelo poder publico como se fossem culpados da situação em que se encontram. Nesse processo, passamos a julgá-los  sabendo que eles não são culpados de nada. Na verdade, eles são vítimas, foram abandonados, é isso!
    
Conscientes dessa situação de abandono ou violência nosso papel é afastá-los do risco social e protegê-los. Essa é uma parte da história, que devemos cuidar com maestria. A outra parte égarantir o direito à convivência familiar. 
    
Em primeiro lugar, a Casa Lar deve se constituir como uma família em caráter excepcional e temporário, mas é preciso ser uma família. Sempre digo que as mães ou educadores sociais que trabalham numa Casa Lar têm que ter vocação e acima de tudo, amar o que fazem. O amor ao próximo descrito no primeiro mandamento que faz de todos nós uma família. 
    
Além da convivência na Casa Lar, como numa família, é imprescindível ir à causa do problema. É preciso conhecer os motivos das situações de violência, abandono e negligência familiar a que as crianças e adolescentes foram submetidas. Nessa hora, certamente, vamos chegar aos mais graves problemas sociais que são: o uso de drogas como o álcool e o crack por parte dos pais, o desemprego, as precárias condições de moradia, a total desinformação, fatores que na maioria das vezes provocam a desestrutura de uma família.  
    
Para garantir o direito à convivência familiar da criança e do adolescente é preciso resgatar a família desestruturada. São pais ou mães dependentes químicos que   precisam ser tratados, jovens que precisam ser orientados, gente que precisa de trabalho.  Aí entra a importância da rede de serviços públicos (saúde, assistência social, educação, habitação) e a parceria da sociedade civil. Posso afirmar ainda que há muitos casos que a responsabilização dos pais também deve ser rígida para que possam refletir, tomar atitudes e até procurar ajuda.  
     
Há muitos anos ouvi uma musica do P. Zezinho que dizia: “E eu queria somente lembrar que milhões de crianças sem lar. São frutos do mal que floriu num país que jamais repartiu”. Triste realidade. Mas, se  as administrações públicas tem a coragem de criar Casas Lares, Caps AD, e se famílias se dispõe a ser acolhedoras, nasce dentro de nós uma nova esperança no repartir o pão e o amor fraterno. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Águas de Janeiro


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
   
As águas de janeiro devastaram a casa onde, no princípio dos anos 1970, o músico Tom Jobim  compôs a música “Águas de Março. Até agora, são 670 mortos, quase 14 mil desabrigados só na região serrana do Rio de Janeiro. A catástrofe chama a atenção do mundo inteiro por ter sido um fenômeno raro e avassalador que sequer deu chance às pessoas de se protegem, mas também denuncia a gravidade da  ocupação desordenada do solo urbano.  O cenário é dramático, uma guerra cujas armas foram sendo colocadas pelo próprio homem. 
    
A catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro foi causada por um tipo de deslizamento considerado raro e avassalador por geólogos. Além do escorregamento de terra, a tragédia foi agravada por um fenômeno chamado de corrida de lama e detritos. É quando uma série de deslizamentos acontece ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e tão rápido que praticamente impede que as pessoas se protejam. Trata-se da maior magnitude de escorregamento de terra possível. 
     
"É bom sempre frisar que a responsabilidade não deve ser creditada a fenômenos como o aquecimento global ou a imprevistos geológicos e pluviométricos. Tudo que tem acontecido está associado à desordenada ocupação urbana de áreas geologicamente inadequadas", disse Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento e Gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). E aí todos tem culpa, quem ocupa e quem não fiscaliza.
     
No desespero, as pessoas tentam cavar a terra à unha para encontrar familiares. O país inteiro se mobiliza para ajudar e a solidariedade é une o país. Entre os twiteiros uma mensagem interessante: ”Não gaste telefone eliminando algum candidato do BBB nesta semana.Converta esse valor, doando para as pessoas que perderam tudo”. 
      
2011 traz para nós uma importante reflexão sobre o meio ambiente. Na minha cidade a chuva fina e mansa permite que as pessoas durmam tranquilamente e sonhem com um mundo melhor. São seis horas, da manhã. Na esquina da Padaria em Passos, vejo duas senhoras revirando contêineres de lixo, catando materiais recicláveis. Até quando nós, que integramos o Poder Público faremos de conta que estas cenas não existem? Até quando nós, sociedade continuaremos de braços cruzados? O nosso lixo é o luxo de muitas pessoas. Quase tudo o que vai para os aterros e traz danos ambientais, se separado, reciclado,  pode se tornar a sobrevivência salário, limpeza urbana e sobrevivência de muita gente.
    
No meio das águas que rolam, nem ricos nem pobres foram poupados. Condomínios de luxo e favelas. E Jobim cantou: “É o mistério profundo, é o queira ou não queira”. Lembrei de um trecho da Carta do Chefe Seatle, escrita em 1854 ao presidente dos Estados Unidos: “"De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence à terra. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará".  Creio que já não precisávamos mais de avisos. Que ouçamos o recado das águas de janeiro.

Humanização no serviço público

Você já imaginou se as pessoas, que atuam no serviço publico, pudessem fazer uma pausa para refletir sobre a consciência da sua missão no seu espaço de trabalho e as conseqüências disso na sua vida e na vida do outro? Afinal de contas, o que justifica o trabalho é o dinheiro, o salário a receber ou a oportunidade que se tem para a construção do ser humano, do ser que trabalha e do ser que depende do seu trabalho?
    
Pensando nesta realidade, a Secretaria Municipal de Assistência Social realizou no dia 13 de janeiro de 2011 um importante momento de reflexão sobre a humanização no serviço público. Nesta hora em que a maioria das pessoas tira férias, os funcionários da Semas estão sendo convocados para uma pausa coletiva, pouco mais de uma hora para pensar e refletir sobre a ação de cada um no trabalho diário.
      
Para quem trabalha no serviço publico, é fácil perceber quando alguém que chega precisa apenas de um pouco de atenção. Nesse momento, a solução pode estar na sensibilidade do servidor publico ao ouvir e indicar o caminho. Nas vezes em que o problema é urgente, aí o que vale mesmo é agir de todas as formas possíveis para buscar uma solução. 
     
Injustificável é omitir. A omissão, em qualquer área traz graves conseqüências. Na área social a omissão é um dos piores crimes, pois contribui para aumentar a violência e a criminalidade. Sempre digo que a omissão na proteção de crianças e adolescentes, por exemplo, pode ter como conseqüência a existência do menor infrator. O menor desprotegido, mal acolhido fatalmente se torna um menor agressor e, quando adulto, o marginal. Daí a importância da ação preventiva, daí a importância do trabalho sério e comprometido do servidor publico. A humanização no serviço publico implica na atuação profissional que impede qualquer ato de omissão.
      
Difícil mesmo, no serviço publico, é quando a burocracia emperra tudo. Ai, fazer o quê? É preciso cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, a licitação número tal e a demora é fatal! E quanta demora! Ministério Publico de olho e Judiciário atento. No Legislativo eis a questão: ser ou não ser oposição. Em cada lugar, em cada espaço de poder, cada um que trabalha é um servidor publico e não pode se esquecer que acima da autoridade está o servir. Aí cabe a responsabilidade de agir coletivamente, em sintonia buscando construir a grande obra que é o ser humano. 
      
Gosto quando vejo os bons resultados de um trabalho humanizador. Como é bom sentir o brilho nos olhos, o sorriso no rosto de quem atende e de quem é atendido. E aí eu fico com a mensagem de Charles Chaplin no “Ultimo Discurso”: “Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu oficio. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar, se possível, judeus, o gentio, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros. Nesse mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos...Lutemos por um mundo novo...um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice”.
       
Nossa luta por um mundo novo acontece no dia a dia, lembrando sempre o recado de Chaplin de que não somos máquinas, mas somos pessoas, com sentimento, alma e coração. A humanização das ações no trabalho, na família e na sociedade é o que dá sentido à nossa existência.