quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Povo que é povo mesmo


Foi o povo que é povo mesmo, que trabalha de sol a sol nas lavouras, os operários das construções, as costureiras, os retireiros, os balconistas, os atendentes. Esse povo representou a expressiva votação de Dilma e merece a nossa homenagem.    
    
Noite de segunda Feira, 01 de novembro, acabo de chegar de uma minicarreata que com alguns militantes do PT em comemoração à vitória de Dilma. Um grupo de pessoas decidiu ir ao coração dos bairros da cidade, agradecer às pessoas que garantiram a vitória de Dilma. Mesmo com chuva, a carreta partiu do bairro Santa Luzia, foi ao Coimbras, seguindo pela Penha, na antiga rua do Valinho, hoje Imaculada Conceição, no São Francisco, a popular Rocinha, Nossa Senhora das Graças e lá no meio do Novo Horizonte. Caminho que estamos acostumados a fazer sempre, mas que tinha que ser feito agora de forma especial para agradecer a expressiva votação de Dilma. 
    
Foi bonito demais ver o sorriso estampado no rosto daquelas pessoas e o aplauso pra Dilma que a carreata recebia. Nesses lugares está o povo simples e trabalhador, o povo que sofre por causa do preconceito e da discriminação. Na carreata comecei a entender melhor a votação de Dilma. 
    
Esse povo voltou Dilma pra valer! Foi mesmo um verdadeiro massacre nas urnas. Votou porque sua candidatura representava a continuidade do projeto político do presidente Lula, que deu certo e melhorou a vida de muita gente. Votou porque viu em Dilma a expressão da liberdade e da consciência. Ao chegar em casa, deparei com o poema de Pedro Tierra, “500 anos esta noite”. Eis aí a melhor explicação:
    
“De onde vem essa mulher que bate à nossa porta 500 anos depois? Reconheço esse rosto estampado em pano e bandeiras e lhes digo: vem da madrugada que acendemos no coração da noite. De onde vem essa mulher que bate às portas do país dos patriarcas em nome dos que estavam famintos e agora tem pão e trabalho? Reconheço esse rosto e lhes digo: vem dos rios subterrâneos da esperança, que fecundaram o trigo e fermentaram o pão. De onde vem essa mulher que apedrejam, mas não se detém, protegida pelas mãos aflitas dos pobres que invadiram os espaços de mando? Reconheço esse rosto e lhes digo: vem do lado esquerdo do peito. Por minha boca de clamores e silêncios ecoe a voz da geração insubmissa para contar sob o sol da praça, aos que nasceram e aos que nascerão, de onde vem essa mulher. Que rosto tem, que sonhos traz? Não me falte agora a palavra que retive ou que iludiu a fúria dos carrascos durante o tempo sombrio que nos coube combater. Filha do espanto e da indignação, filha da liberdade e da coragem, recortado o rosto e o riso como centelha: metal e flor, madeira e memória. No continente de esporas de prata e rebenque, o sonho dissolve a treva espessa, recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho, afasta a força que sufoca e silencia séculos de alcova, estupro e tirania e lança luz sobre o rosto dessa mulher que bate às portas do nosso coração. As mãos do metalúrgico, as mãos da multidão inumerável moldaram na doçura do barro e no metal oculto dos sonhos a vontade e a têmpera para disputar o pais. Dilma se aparta da luz que esculpiu seu rosto ante os olhos da multidão para disputar o país, para governar o país”. 
    
Lendo o poema passeei pela história do meu país. Nesses 500 anos de exploração que o Brasil sofreu, faz só 76 anos que a mulher conquistou o direito ao voto. Hoje Dilma é a primeira mulher a assumir o comando da nação. A ditadura, tempo que é impossível esquecer, faz parte do passado. Viva a democracia, viva a consciência. 
    
Mais uma vez a carreata não terminou seu trajeto por causa do horário, ainda faltam outros bairros pra gente agradecer. Mas vamos estar sempre lá, nas nossas ações políticas, no encontro com esse povo que é povo mesmo.

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